24/05/2010

Coração na ponta da chuteira

Era o jogo do ano. Tudo podia acontecer. Em um grupo disputado e confuso - salvo a FEA, já classificada - Odonto, Poli e Eca tinham seus destinos completamente indefinidos e o futuro das equipes seria escrito a cada lance do duelo entre POLI e ECA. Na perspectiva auri-roxa, só a vitória interessava. Após o vacilo contra a Odonto, uma derrota ou um empate significariam a inaceitável queda para a segunda divisão. Os 3 pontos, por sua vez, garantiriam a ECA na semifinal da Copa USP. Era 8 ou 80.

Agraciado com as ilustres presenças do eterno camisa 15 Tato Carbonaro e do uniformizado Freakin Finazzi, o Baby Barione seria o palco de uma das mais fantásticas partidas da história recente do futsal universitário paulistano. Apesar da quadra reformada, com um novo piso questionável que lembrou a quadra externa do CEPE, nada parecia abalar a confiança dos Meninos do Thiba. Xavier apitou e a ECA iniciou o combate. Coesa, movimentando forte e sobrando em quadra. O gol era questão de tempo. Aos 12 minutos, J. Love, na ala esquerda, chamou o 1 contra 1, desnorteou o pobre marcador e bateu cruzado. Fernando Watanabe, pilhado depois de 7 xícaras de café e 2 cigarros, só precisou empurrar a redonda para as redes e abrir o marcador, 1 a 0. Mesmo com a vantagem no placar, a ECA seguia impondo seu jogo. Aos 14 Barabanov recebeu na frente, cortou o goleiro e foi criminosamente derrubado. Cartão amarelo para o guarda-redes e galo na testa para Renan, que ficou temporariamente cego do olho esquerdo após o lance. Depois de alguma pressão, enfim, veio o segundo gol. Aos 18 minutos após um vacilo do arqueiro politécnico, Leonardo “Bomber” Alemão, rolou a bola por dentre as pernas do mesmo, anotando o primeiro dele na partida.

Intervalo de jogo. Enquanto recuperavam as energias, os atletas ecanos ouviam as palavras de Thiba que, apesar de satisfeito com o desempenho da equipe no primeiro tempo, apontava alguns retoques para a segunda metade da partida.

Logo no início da segunda etapa a POLI começou a acelerar seu jogo e, em um ataque envolvente (com direito a chapéu no alemão), após uma bela troca de passes, diminuiu o placar, 2 a 1. A ECA continuava tranquila, construindo ataques e equilibrada na partida. A POLI, por sua vez, não era tão passiva quanto no primeiro tempo e assustava a baliza de Pedro Maino. Aos 11 minutos, em uma infelicidade, J.Love se complicou na saída de bola e a POLI empatou a partida. O nervosismo passou a assolar o vibrante banco de reservas ecano, mas o sentimento de “não vamos perder esse jogo” ainda contagiava a equipe. Atacando perigosamente, a ECA tentava voltar a frente do placar, mas os chutes cruzados sem ninguém no segundo pau, não obtinham sucesso. Há quatro minutos do fim, o inacreditável aconteceu... Após um chute perdido e desviado a bola encontrou um politécnico no segundo pau. A ameaça da queda começava a virar realidade. 3 a 2.
Com postura de campeão, porém, o time auriroxo, não se abateu e Thiba colocou Amgarten no gol linha. Dois gols e três minutos separavam a queda da classificacao. Jogando no 2-3, com a POLI totalmente perdida na marcação, a ECA começou a incendiar o Baby Barione. A bola não queria entrar. Já restavam só dois minutos. A tensão tomava conta do banco e dos jogadores em quadra. Há 1 minuto e meio do fim, J.Love, com uma ajudinha de Chico Xavier, achou um gol no meio da zaga politécnica, 3 a 3. Não era o suficiente. Com o coração na boca a ECA seguiu sua pressão. Arremates consecutivos, bola na trave, desespero. Haja coração. Faltando 37 segundos, Ninho Moreno, o menino do "ombro ioiô", enfim, em um chute certeiro, encontrou a glória. O êxtase tomou conta do ginásio, o banco ensandecido parecia não acreditar no que presenciava: ECA 4 a 3. Os mais longos 20 segundos da vida se passaram e o apito final de Xavier presenteou os Meninos do Thiba com a classificação. Alegria, alívio, arrepio e lágrimas tomaram conta dos ecanos. A consagração, estampada nos olhos molhados do professor Thiago a rigon, foi o retrato final de uma das mais belas passagens da história do futsal ecano.
Parabéns, mulecada! É família futsal, amigo! QUE VENHA O JUCA!


Túlio Belo, vice-artilheiro da Copa USP

*Vale dizer que Nakamura – com requintes de garçom - deu o passe para os dois gols da virada
*Testinha, o ícone-mor do futsal ecano, sequer apareceu no ginásio para prestigiar a família